segunda-feira, 2 de março de 2009

China: a luta é pela sobrevivência



Toda uma cidade erigida pela globalização. Não foi há muito tempo que 20 mil fábricas têxteis e de confecção fervilhavam de actividade em Shaoxing, trabalhando seis e mesmo sete dias por semana para produzirem peças a serem vendidas por grandes retalhistas americanos como a Gap e a Wal-Mart. Actualmente, a procura enfraquece no imenso território dos Estados Unidos e, na cidade costeira chinesa – ainda um dos maiores centros têxteis de todo o mundo – a economia é já uma das grandes vítimas da recessão, com fábricas a fecharem e alguns dos seus milionários donos a abandonarem a localidade, deixando milhares de trabalhadores ao abandono. Os que optam for ficar vêem-se pressionados por dívidas crescentes e pelas fortes perspectivas de bancarrota.

No sector têxtil do gigante asiático, assiste-se a uma autêntica luta pela sobrevivência, tendo o Governo de Pequim alertado para o risco de dois terços das empresas da fileira do país virem a fechar. Receia-se que os problemas na indústria têxtil estejam apenas a começar. A outrora efervescente economia chinesa testemunha agora a mais forte crise num período de três décadas. Crê-se que 20 milhões de trabalhadores migrantes estejam actualmente desempregados, originando manifestações de trabalhadores confrontados com o encerramento de sucessivas fábricas. Preocupados com o clima de instabilidade social e política vigente no território, os responsáveis chineses anunciaram ajudas financeiras de 586 biliões de dólares tendentes a manterem o funcionamento de algumas fábricas. Enquanto isso, empresas estatais recebem ordens no sentido de não despedirem os seus trabalhadores. Ao mesmo tempo, os construtores automóveis e navais e os fabricantes da indústria electrónica passaram a receber empréstimos estatais.
Mas poucos sectores se revelam tão essenciais para a economia da China como a indústria têxtil e de vestuário, verdadeiro trunfo do tremendo potencial global chinês e símbolo do seu modelo de desenvolvimento, baseado nas exportações de preços baixos. Os especialistas defendem que o que acontece neste momento em cidades como Shaoxing poderá servir de barómetro do poder económico da China e janela para as suas condições sociais. Logo em 2007, os crescentes preços do petróleo começaram a fazer aumentar o custo das fibras químicas usadas no fabrico de vestuário de nylon. Por sua vez, os maiores preços do carvão tornam mais dispendioso o funcionamento das fábricas. E quando a moeda da China se desvalorizou fortemente face ao dólar no início de 2008, as fábricas locais reclamaram o serem pagas por exportações numa moeda cada vez mais débil. A somar a todos estes factores, a nova legislação laboral e a severa competição por jovens trabalhadores migrantes fizeram disparar os salários em mais de 30% nos últimos dois anos. Isto numa altura em que os compradores de tecidos e têxteis dos Estados Unidos e da Europa começaram a pedir todos os anos preços cada vez mais reduzidos, encostando os produtores chineses contra a parede. De modo a fazer face à crise, Pequim foi lesto a responder com uma série de medidas tendentes a apoiarem os produtores têxteis onde constavam, entre outros, créditos e descontos nos impostos, facilidades na contratação de empréstimos em bancos estatais.
Fonte: new york times

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