Há uma tendência na moda norte-americana para procurar inspiração nas roupas usadas por gente que mora na rua. Inocência? Mau gosto?
Os jornalistas costumavam dizer que bastava o espírito dos tempos sussurrar para que o mundo da moda ouvisse. Ultimamente, o rufar de negativismo é tão audível que os estilistas tapam os ouvidos com as mãos. Daniel Silver, um dos estilistas da Duckie Brown, diz: "Acho que está toda a gente a afogar-se. É uma época de naufrágios."
De que outra maneira se pode explicar o surto de referências ao "chique dos sem-abrigo"? Uma reportagem fotográfica da edição de Setembro da revista "W" representa a reciclagem de sacos de compras das casas de moda, como a Chanel ou a Dior, em vestidos improvisados, para usar com peles e pérolas. Na reportagem, vê-se a modelo russa Sasha Pivovarova deitada num banco de jardim, num colchão ou numa cama de sacos da Prada. Nos créditos da reportagem sobre roupa de papel são referidos os cabeleireiros, os maquilhadores e o estilista Alex White.
Ao preparar-se para a primeira mostra da sua colecção, a estilista Erin Wasson manifestou concordância com o ponto de vista de que os profissionais podem retirar ensinamentos dos sem-abrigo. E defendeu as observações que fizera no ano passado, apesar de estas terem gerado uma tempestade online, na revista "Nylon". "Para mim, as pessoas com o maior sentido de estilo são as mais pobres." Wasson, muitas vezes referida nas revistas de moda como a musa de Alexander Wang, um estilista conhecido por desenhar para as mulheres até há pouco descritas pelo mundo da moda como "mulheres do momento", disse ainda: "Não digo que se deva passar uma imagem cor-de-rosa dos sem-abrigo."
O que diz ela então? "Quando me mudei para Venice Beach encontrei pessoas com uma mentalidade espantosa, uma mentalidade de cigano; pessoas que não é possível etiquetar e arrumar numa caixa", disse a estilista, esquecendo-se talvez de que é precisamente numa caixa que muitas delas vivem.
Exclusivo i / The New York Times por Guy Trebay
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